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Reabilitação low cost: As construtoras regressam à vida | in Dinheiro Vivo

Em apenas um mês, a reabilitação low cost conseguiu uma proeza: despertar algumas construtoras do quase coma para que a crise as atirou. O impacto do novo regime excecional da reabilitação, que veio simplificar as exigências técnicas na recuperação de edifícios com mais de 30 anos, já se sente na atividade das construtoras, garante Filipe Azevedo, administrador da Lucios – Engenharia e Construção (responsável por projetos como o Hotel Intercontinental Palácio das Cardosas e a reabilitação, em curso, do Edifício Castilho, em Lisboa). E está a atrair investidores que tinham desistido de intervenções planeadas devido aos custos excessivos que exigiam.

“Há determinadas intervenções em edifícios do centro histórico que se tornavam quase impraticáveis por terem de cumprir todas as regras do edificado novo. Em termos de negócio, deixavam de valer a pena”, explica Filipe Azevedo, que classifica a nova lei como “o maior contributo para a reabilitação em Portugal”. Em causa estão questões como as dimensões das caixas de escadas, que nos edifícios antigos não correspondem às dimensões atuais, o que obrigava a fazer de novo ou a esventrar o edifício para colocar elevadores.

O certo é que só a aprovação da nova lei da chamada reabilitação low cost serviu já para atrair os investidores. “Temos dois exemplos de possíveis investidores, que tinham feito consultas para intervenções e que desistiram porque os preços eram impraticáveis. Agora voltaram à carga pedindo nova avaliação ao projeto”, diz, explicando que a redução de custos decorrente da nova lei chega aos 40%. Qualquer operação no centro histórico das cidades “é hoje mais fácil de fazer, leva menos tempo e custa menos dinheiro, três fatores-chave na análise que qualquer investidor faz a uma operação”.

Com 30 milhões de faturados em 2013, este segmento de mercado vale já cerca de 60% do volume de negócios da Lucios em Portugal (quase 51 milhões no ano passado). Filipe Azevedo admite que a tendência será de reforço. “Havendo menos oportunidades nas outras áreas, a reabilitação vai ganhar peso”, sublinha.

Já para este ano, a construtora prevê um volume de negócios na ordem dos 54 a 55 milhões de euros. O objetivo passa por “manter a dimensão média” da empresa em torno dos 50 milhões. Mas, em contrapartida, os mercados externos vão disparar e deverão valer, no final do ano, 20 a 25 milhões de dólares contra os 7 a 8 milhões de 2013. Mais, embora o processo de internalização da Lucios tenha arrancado há apenas dois anos, em Moçambique, Filipe Azevedo admite que, em quatro a cinco anos, este mercado tenha já uma dimensão superior à do português.

Internacionalização e diversificação.

França, onde já tem uma sucursal, é outra aposta. O objetivo é que, em três anos, este mercado, onde a construtora está a arrancar com o primeiro contrato – uma reabilitação no valor de 12 milhões -, valha já 20 a 25 milhões de euros anuais. Com 290 trabalhadores em Portugal e 90 em Moçambique, a Lucios tem vindo a diversificar destinos. Filipe Azevedo assume estar “especialmente atento” à Argélia, onde tem apresentado “muitas propostas”, e ao Gana, onde dá os primeiros passos.

E por cá? O administrador da construtora assume “desconhecer” se Portugal vai continuar a oferecer as oportunidades necessárias, quer em obras públicas quer de investidores particulares, para manter a dimensão da operação. Até porque assume a sua dificuldade em fazer previsões a mais de dois anos. “Temos mais de 70 milhões de euros de obras em carteira, o que nos dá trabalho garantido para os próximos 18 meses. Nunca me atreveria, há meio ano apenas, a prever isto. No último ano e meio não íamos além dos dez a 12 meses de trabalho garantido”, sublinha. Mas nem só de construção é feita a aposta de futuro do grupo. Bem pelo contrário, reconhece Filipe Azevedo: “Para nós é fundamental ir crescendo noutras áreas que não a construção civil e, daí, o nosso investimento na diversificação de negócios”. Em análise estão “oportunidades ligadas ao Turismo em Portugal”, mas a aposta mais recente é a construção de uma fábrica de água engarrafada em Moçambique, que será inaugurada em junho.

O investimento é de 3 milhões de dólares e resulta de uma parceria com mais quatro sócios. Por isso mesmo, Filipe Azevedo não entra para já em pormenores, nomeadamente no que à marca da água diz respeito. Sublinha apenas que a nova fábrica vai ficar situada a 50 quilómetros de Maputo e que permitirá criar cerca de quarenta novos empregos.

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