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Lucios reforça vocação hoteleira e estreia-se nos espaços comerciais | in Expresso

Construtora evoluiu para a promoção de hotéis. Conta com seis unidades em carteira.

Primeiro especializou-se na reabilitação urbana, depois tentou a promoção hoteleira. Agora, no âmbito de uma cruzada de diversificação de negócios, a construtora Lucios arrisca na exploração de espaços comerciais, através do Mercado Municipal Beira-Rio, na marginal de Gaia. A inauguração
está marcada para 12 de setembro.

É uma estreia dois em um: nas concessões e no imobiliário comercial, com o turismo em fundo. A operação é de risco reduzido (€1,4 milhões de investimento e uma renda mensal de €2 mil) e feita em parceria com a PEV Entertainment, a promotora do Festival Marés Vivas. Mas representa uma síntese perfeita da nova filosofia empresarial da Lucios, focada em “diversificar e dominar todas as fases do projeto, numa lógica de chave na mão”.

É um caso exemplar, “por combinar a renovação do edificado com a aposta num negócio virado para o turismo”, diz
Filipe Azevedo, o representante da terceira geração que conduz
os destinos da construtora familiar. O Mercado Beira-Rio “beneficiará do fluxo impressionante de turistas que circula pela marginal de Gaia”. Filipe Azevedo confia que a pujança e prosperidade que o turismo vive “está para durar”.

O mercado encontrava-se decrépito e a ocupação reduzida a um punhado de bancas de frutase legumes quando a Câmara Municipal lançou um concurso público de renovação e exploração. O consórcio da Lucios foi a jogo e, entre três candidatos, ganhou a concessão por 30 anos. Com as caves de vinho do Porto ali ao pé, o mercado será gerido numa lógica de centro comercial, criando na frente ribeirinha um quarteirão de cultura e lazer com 47 espaços distribuídos por dois pisos.

O conceito segue de perto o modelo que foi aplicado no Mercado do Bom Sucesso, no Porto, com a vantagem de
combinar novos lojistas com os comerciantes que resistiram à degradação do velho mercado. A oferta é, por isso, variada, focada na restauração “de pronúncia nortenha e raiz tradicional”, no artesanato, nos vinhos e nos sabores — os 22 espaços disponíveis já foram colocados. Vão conviver com as 11 bancas de frescos que já existiam — e sobra um talho, que transita também para a nova versão. É uma “fórmula de sucesso”, que a Lucios gostaria de repetir “se outros municípios optarem por  este tipo de solução”, diz Filipe Azevedo.

Seis hotéis próprios

Viciada na reabilitação, a Lucios acumulou currículo com empreitadas nos centros históricos de Lisboa e do Porto para operadores hoteleiros, antes de se aventurar por sua conta e risco, identificando oportunidades e promovendo novas unidades. Os hotéis Intercontinental, Eurostar Heroísmo, NH Porto Batalha ou o hostel Bluesock, todos no Porto, testemunham a vocação hoteleira da construtora. Nas empreitadas em curso no Porto contam-se, por exemplo, a ampliação do Hotel Carris e uma nova unidade junto à Praça do Marquês — na capital de Moçambique
executa dois hotéis para investidores estrangeiros.

A estreia da Lucios como promotora verificou-se em 2016, com a transformação de uma antiga escola de teatro e dança no The House Ribeira Hotel (56 quartos), entregando depois a gestão à Sonae. Neste aso, negociou um aluguer de longa duração (30 anos). A associação Balleteatro, dona do edifício, não o podia vender. Seguiu-se a Baixa de Lisboa, com a renovação de um edifício pombalino, brindando a capital com o charme do boutique hotel AlmaLusa (28 quartos). Nos dois casos, a Lucios partilha as operações com investidores “com a mesma visão do negócio”. É um modelo “que nos permite libertar recursos, dinamizar novos projetos e gerar mais obra para a construtora”, justifica Filipe Azevedo.

E são mais quatro os projetos na rampa de lançamento. No Porto, a renovação da antiga Pensão Avis, na Praça da Batalha (95 quartos), arranca em setembro, tal como a transformação de um edifício adjacente à Praça Carlos Alberto (70 quartos). A reabilitação de um terceiro edifício, na Rua do Bonjardim (83 quartos), fica para janeiro de 2018. Lisboa acolhe a única construção de raiz, junto ao Largo do Rato (102 quartos) — a participação da Lucios é de 25%.

Esta ofensiva hoteleira envolve €40 milhões. A construtora acredita que vai fechar mais aquisições este ano em Lisboa ou no Porto e escrutina já os centros históricos de outras cidades. A tentação de evoluir para a gestão hoteleira “é grande, tendo em conta as margens favoráveis com que negócio lida”, mas até agora refreou os ímpetos.

Na frente residencial, a Lucios prefere também repartir o risco dos projetos com sócios financeiros. Em execução tem
os empreendimentos Essenza, com 25 apartamentos sobre o Parque da Cidade do Porto (€20 milhões), e o condomínio da Foz, de seis moradias (€8 milhões).

 

MULTIUSOS ROSA MOTA

Nas concessões municipais, uma segunda operação de maior envergadura ocupa o consórcio Lucios/PEV. Em novembro, a construtora arranca com as obras de renovação do interior do Pavilhão Rosa Mota para brindar o Porto em maio de 2018 com um arena multiusos moderna e versátil. São €8,5 milhões de obra. A nave torna-se um centro de congressos (4700 congressistas) e um recinto para provas desportivas (5580 lugares) e concertos, com lotação até 8660 espectadores.